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Potência mundial? Como programa espera acabar com falta de carros no Brasil

Desconhecidos por muitos que gostam de carro, os semicondutores possibilitam uma série de tecnologias usadas pelos automóveis. O uso deles na fabricação de componentes eletrônicos de alta tecnologia é indispensável. Mega fornecedores se desdobram para fornecer a solução para indústrias diversas, entre elas a de computadores, celulares e videogames.

Os carros estão na fila de fornecimento e sofrem por gargalos e interrupções na produção. Contudo, um plano de nacionalização de semicondutores pode ser a solução para o problema da indústria automotiva.

Criado em 2007, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis) foi pensado como uma forma de nacionalizar parte deste conteúdo tão vital. A ação fez parte do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e foi criada na época do governo Lula, principalmente, para fomentar a indústria de televisores.

“O Padis é um programa que iria acabar em janeiro deste ano e, por sorte, digamos assim, teve a falta de semicondutores no mercado. E foi o momento de perceber que, se o Brasil tem uma indústria de semicondutores, é graças ao Padis”, considera Erwin Franieck, diretor-presidente do Instituto SAE4 Mobility. “O semicondutor viabiliza a eletrônica no carro, são todos os microcontroladores e sensores, hoje existe uma visão que em 2025 isso vai chegar a 40% do valor do carro. Até 2030 será mais de 60%”, analisa o engenheiro.

O Padis estava previsto para durar até o início de 2022, mas a lei foi renovada neste ano, da mesma maneira que a Lei da Informática. O objetivo é expandir a produção nacional e ampliar a competitividade.

“Os países orientais são os grandes exportadores. Eles usam o silício, que é a base para se fazer o semicondutor. Somos o maior exportador de silício do mundo, só que exportamos como commodity, sai por R$ 12 o quilo. E compramos na Ásia para usar nas nossas indústrias, mas por R$ 35 mil o quilo”, questiona Vitor Lippi, deputado federal do PSDB e um dos líderes da iniciativa de renovação do Padis, cuja validade foi prorrogada por mais quatro anos.

Previsto para ser aprovado como medida provisória até meados do ano, o Plano Nacional de Semicondutores pode entrar em vigor até o ano que vem – há um prazo de dois meses, mas ele pode ser prorrogado por outros dois. A associação do plano começou com um grupo de trabalho que faz parte do programa Made in Brazil Integrado (MiBI), que também busca o aumento da produtividade e competitividade do setor automotivo brasileiro. Vale ressaltar que as eleições podem atrasar um pouco o processo de aprovação no Congresso.

Será o fortalecimento do Brasil diante de grandes players do mercado internacional. Vitor ressalta que os maiores produtores de semicondutores do mundo são Taiwan, Coreia do Sul, Japão, China, Alemanha e um pouco em Israel e Estados Unidos. O deputado lamenta que o Brasil produz apenas 10% da demanda da indústria.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), deixaram de ser produzidos cerca de 500 mil veículos entre 2021 e 2022. Somado a isso, não foram poucos os carros que perderam algum tipo de conteúdo.

A Volkswagen e Toyota chegaram a remover o multimídia de alguns modelos, enquanto a General Motors tirou até mesmo a conectividade por bluetooth do Chevrolet Onix hatch e sedã e também do SUV Chevrolet Tracker – algo que é padrão há mais de uma década. O resultado é a parada da produção de vários modelos.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi), a indústria dos semicondutores brasileira atua na preparação do wafer (ou borracha de silício) com afinamento, corte, montagem, encapsulamento e testes, ou seja, nas etapas finais do processo.

A etapa mais concentrada mundialmente é a difusão dos wafers de silício, algo que ainda precisa ser nacionalizado com maior intensidade. Por outro lado, o país tem um bom expertise no desenvolvimento de projetos de semicondutores. O problema é que a demanda por eletrônicos é muito superior ao segmento dos automóveis, o que o torna menos atrativo.

“Os semicondutores são produtos que precisam de volume para serem competitivos. No mercado brasileiro, os maiores mercados são justamente os de smartphones. Temos 45 milhões de smartphones vendidos no Brasil e 85% disso é fabricado no Brasil, já 38 milhões foram fabricados no país”, contabiliza Rogério Nunes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi), que também cita o peso de computadores e outros aparelhos.

“Isso criou um volume bastante importante, uma demanda muito forte para essas memórias. Foi por isso que as empresas acabaram investindo nesse setor. Grande como é, com grande demanda e hoje temos aí a maior participação de produtos semicondutores justamente pela manufatura de memórias dos setores de computadores e celulares, mas não restritos a eles”, complementa.

Rogério estima que um carro convencional tem 300 semicondutores, que podem passar de 1.500 a 2.000 nos próximos três ou quatro anos. O aumento de tecnologias de direção semiautônoma, conectividade, entretenimento e eletrificação serão os maiores responsáveis.

Embora leve muitos anos, a instalação de uma grande fábrica de semicondutores no Brasil faz parte de um processo que precisa de um pontapé inicial.

“A gente precisa dar um primeiro passo, vai levar algum tempo. A partir daí teremos o desafio de trazer os grandes fabricantes internacionais para o Brasil. O setor automotivo importa quase tudo nessa área. Infelizmente, é o momento que o Brasil está passando que evidenciou essa situação de vulnerabilidade”, afirma Humberto Barbato, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

O tempo de implementação de uma grande produção de semicondutores vai exigir um prazo que seja um plano de Estado, não de apenas um governo. “Semicondutores precisam de investimentos de longo prazo, cinco anos não é um tempo suficiente para que se utilizem os incentivos. Só para você ter uma ideia, a construção de uma fábrica de semicondutores, o que chamamos de foundry, uma wafer factory, que é aquela que fabrica o chip, o silício, demora de três a cinco anos”, explica Rogério.

Os investimentos incluem também a formação de mão de obra e a participação de universidades. O financiamento do fomento pode vir da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Parece que a saída do sufoco ainda vai demorar, mas há uma saída.

Fonte: http://www.clipping.abinee.org.br/

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